(05-09-2015) Rainer Bock olha para outro lado enquanto a agulha penetra entre seu polegar e seu índice. O chip integrado sob sua pele lhe permitirá agora interagir com objetos conectados, uma novidade que suscita debate no salão da eletrônica IFA de Berlim.
“Não doeu tanto”, diz o voluntário de 36 anos, empregado da empresa de segurança informática Kaspersky.
Com o implante subcutâneo “NFC” (abreviatura inglesa de “comunicação de campo próximo”), do tamanho de um grão de arroz, o alemão pode agora presumir de ser um “cyborg”: um humano com implantes eletrônicos.
Dangerous Things, o maior provedor de implantes NFC, considera que há uns 10.000 “cyborgs” no mundo.
A nova cobaia se nega, porém, que ele seja comparado com o Terminator, e suas motivações estão muito distantes das do público das “implant parties”, esses eventos que organizam em todo o mundo os amantes da tecnologia para implantação de chips NFC.
“Essa gente quer ser parte da internet (…) Para mim é somente curiosidade. Duvido que possam fazer coisas tão excepcionais” com esse chip, assegura.
A seu lado, Evgeni Chereshnev enumera tudo que pode fazer com seu chip implantado há sete meses. Responsável de redes sociais em Kaspersky, ele não necessita cartão para entrar no escritório ou na acedemia, nem código PIN para seu celular. Também pode tuitar de forma instantânea, acender as luzes de sua casa e ajustar sua intensidade com um simples gesto da mão.
“Ainda estamos muito por atrás do Robocop, mas somos bem melhores que o Inspetor Gadget”, bromeia o russo, que compartilha sua experiência num blog e espera contribuir a “criar um conceito de propriedade privada para os dados”, gerenciados hoje em dia pelo Google, Apple, Yahoo e demais.
Proteção dos dados
No momento, esses chips não são muito sofisticados, reconhece Marco Preuss, diretor europeu de investigação na Kaspersky, mas em breve poderiam substituir os atuais meios de pagamento, os cartões de transporte público, os históricos médicos no caso de acidente, etc.
Isto gera dúvidas sobre a confidencialidade desses dados e a possibilidade de que sejam utilizados por outra pessoa, num mundo em que “tudo que possa ser pirateado será pirateado”, prevê o especialista.
Ao contrário do wifi ou o bluetooth, um chip NFC só funciona a curto alcance, o qual poderia tranquilizar a seus usuários. “Mas accessar a meus dados, deve-se saber onde está exatamente meu chip e me tocar”, explica Chereshnev.
Mas os dados não estão encriptados e, no melhor dos casos, só estão protegidos por uma senha de quatro caracteres, “simples de quebrar”, indica Preuss, que teme que possam roubar os dados médicos de uma pessoa mediante um ‘smartphone’ situado próximo do chip.
Os entusiastas não pensam nessas coisas.
“Devemos explorar esta tecnología antes de que os grandes grupos proponham seus próprios chips”, diz Hannes Sjöblad, membro da rede BioNyfiken, um coletivo de especialistas em biotecnologia.
Este sueco de 39 anos se descreve como próximo ao transhumanismo, um movimento filosófico que explora a ideia de um “ser humano melhorado”. Lançou o conceito das “implant parties” em Estocolmo em outubro de 2014.
O fenômeno não é novo: em 2004, uma discoteca de Barcelona propunha a seus membros um implante “VIP” para entrar e pagar o consumo. A experiência teve pouca repercusão, mas os objetos conectados são muito mais numerosos hoje, assegura Sjöblad. A maioria dos telefones inteligentes possuem um chip NFC, ao igual que alguns cartões bancários.
Mas este avanço tecnológico também gera numerosas questões éticas e “a maioria das pessoas continuam céticas”, observa Astrid Carolus, psicóloga de meios na Universidade de Würzburg na Alemanha.
“Os políticos estão atrasados nisto. Várias empresas (…) inventam produtos para os que não temos um marco jurídico. É um exemplo típico”, lamenta.
Fonte: elespectador.com
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