Apesar de não possuir o brilho das tradicionais feiras europeias de Lebourget e Farnborough International o “salão aerespacial” MAKS -2015 que ocorreu em Zhukovsky na Rússia no passado mês de agosto entre os dias 25-30 resgatou um pouco da história da industria aeroespacial russa com a apresentação de velhos conhecidos da mídia internacional, porém, além das espetaculares exibições aéreas dos caças acrobáticos russos, sem dúvida o público mundial foi presenteado com novidades, e nesse quesito a MAKS surpreendeu embora o seu impacto tenha sido tratado com desdém pela crítica especializada.
Curiosamente a mídia especializada ocidental negligencia as informações importantes dos expositores do evento, que apesar de ter seu brilho reduzido pelo impacto dos embargos impostos à Rússia, na sua edição de 2015 a MAKS teve a ilustre presença de expositores de muitas nações estrangeiras, até mesmo dos Estados Unidos que vieram a coroar o evento com exibições aéreas e estáticas.
O evento considerado o maior fora do eixo Europa- Estados Unidos, envolveu mais de 600 organizações russas e mais de 150 empresas estrangeiras.
Entretanto, não se pode deixar de enfatizar que enfrentando a pressão das sanções econômicas impostas pelos países ocidentais, o mercado de aviação civil russo experimentou uma redução do volume de negócios, devido à queda da demanda de linhas aéreas domésticas. Neste contexto, o mercado de aviação militar tomou o centro do palco no MAKS 2015 que apesar da ausência de novas aeronaves militares, os fabricantes russos revelaram um impressionante número de novos sistemas e capacidades.
As novas aeronaves russas como o MiG-35 e o T-50 ainda não chegaram ao serviço operacional, mas já estão atraindo a atenção de novos cliente. Por outro lado, plataformas tradicionais, como o Su-30 e os MiG -29, continuam a ser os principais produtos de venda no inventário russo.
Durante o evento claramente o que se notou foi o real impacto dos embargos tecnológicos na indústria de defesa russa. A sensação é a de que pelo menos no setor aeroespacial estes embargos não afetam este segmento que ao contrário, tem se mostrado cada vez mais atualizado e independente.
Ao contrário, o embargo econômico, este sim, tem refletido na redução da economia Russa e afetado os programas militares com reagendamento de prioridades, como programa PAK–DA (Bombardeiro) e PAK-TA (Cargueiro), PAKFA (Caça Multifuncional) entre outros programas civis.
O baixo crescimento econômico da Rússia afetou diretamente a capacidade de manter os seus programas mais estratégicos em vigor. Porém, por inúmeras oportunidades durante esta edição, representantes do governo e da indústria aeroespacial destacaram que, a diminuição do volume de negócios em função da economia, não tem sido um fato isolado da Rússia, as nações europeias tem sentido o impacto de forma mais contundente.
Até mesmo os EUA experimentam uma ligeira redução no volume de negócios, refletido no cancelamento de importantes contratos de projetos de defesa em função da nova realidade econômica.
Para Vitaly Anasenko fotografo free lance de uma agência de notícias alemã que visitou o evento, esta sensação também foi evidente no salão de Lebourget e deve se repetir em Farnborough em função dos cortes orçamentais e da escassez de novos programas militares mundo a fora.
Para Anaesenko que cobre inúmeros eventos internacionais do setor, há um declínio natural nos últimos eventos, mas que para ele a MAKS 2015 foi um sucesso pois apresentou novidades e resgatou o espírito da industria aeroespacial Russa ao reapresentar antigos projetos e conceitos da outrora pujante industria de defesa Russa.
No mais, o pouco que foi relatado da MAKS passa agora a ser apresentado aqui pelo Plano Brasil neste artigo, que conta com a colaboração de outros quatro autores de sites e blogs que acompanharam o evento e que nos indicaram alguns aspectos mais importantes.
Para já pode-se dizer que por traz da cortina enevoada das críticas aos programas russos e ao andamento de projetos, a MAKS revelou importantes progressos nos seguimentos de armas inteligentes, integração de sistemas, Motores, UCAVs cooperações de desenvolvimento de novos helicópteros, sensores e muito mais informações coletadas por visitantes e colaboradores que circularam na feira e nos trouxeram preciosas novidades que passaram desapercebidas pelos leitores as quais apresentaremos numa série de dois artigos.
UCAV e UAV
Longe das câmeras e muito discretamente apresentado, o JSC Kontsern Radioelektronnyye Tekhnologii, conhecida como KRET acabou roubando a atenção do público trazendo para o evento muitas novidades.
Dentre elas um modelo de um conceito de UCAV que de acordo com Vladimir Mikheev o vice-diretor executivo. Trata-se de um UCAV avançado que está sendo desenvolvido pela United Aircraft Corporation (UAC) e que em breve deve ser apresentado ao público mundial.
A aeronave de combate foi desenvolvida para ser furtiva aos radares e integra uma aviônica totalmente nova desenvolvida para os caças mais modernos de 5 e 6ª Geração.
A aeronave transporta armas e sensores internos em sua baia de armamentos e possui modernos sistemas de comunicações, radar, sistema de guerra eletrônica, sistema de auto-proteção e estação de controle de solo desenvolvido pelo KRET.
Mikheev destacou que o KRET trabalha ainda em dois outros projetos, um de uma aeronave de reconhecimento de longo raio e grande altitude semelhante ao norte americano RQ-4 Global Hawk e um outro conceito, em fase de desenvolvimento. Durante o evento, um dos nossos colaboradores conversou com membros da UAC, empresa que deve levar a diante o desenvolvimento estrutural dos UCAV e lhe foi indicado que a aeronave terá aproximadamente 12 toneladas e transportará inúmeros sistemas modulares como radares SAR, FLIR e radares de baixa frequência.
A UAC busca desenvolver uma aeronave de combate ágil e destinada as funções de Close Air Suport – CAS. Segundo as declarações, há espaço para um UCAV armado com mísseis e bombas guiadas, bem como um canhão que possa executar missões de apoio aéreo aproximado e contra insurgência, substituindo os atuais SU-25 Frog Foot neste tipo de missão. Não nos foi informado se o modelo exposto seria o do dito UCAV, nem mesmo se este seria o tal modelo conceito do qual a KRET trabalha em conjunto com a UAC.
Ainda com relação ao modelo exposto, Mikheev afirmou à imprensa que os radares e e sistemas de guerra eletrônica do UCAV já estão desenvolvidos e que passam pelos programas de ensaios. Os sistemas derivam de dispositivos desenvolvidos para os programas SU-35, Yak-130 e Ka-52.
Segundo informações a aeronave de ataque deverá estar pronta para entrar em operação ainda ni começo desta década com seu voo programado para 2018.
Mil Mi 28MN
O KRET exibiu ainda o modelo do novo sistema HMD (Helmet-mounted display) desenvolvido para a nova variante do helicóptero Mil Mi 28 o Mi 28MN, o sistema está sendo desenvolvido para permitir ao piloto e atirador a maior consciência situacional em combate.Helm Mi28 (3)Helm Mi28
O sistema será integrado ao sistema de defesa da aeronave que contará com sistemas ativos e passivos para defender os helicópteros dos ataques de mísseis. Um sistema semelhante foi apresentado no Helicóptero cargueiro Mi26 que exibia assim como as demais aeronaves, o novo padrão de camuflagem das aeronaves em verde musgo.
O sistema de defesa detecta a ameaça e responde com o lançamento de uma carga para detoná-la.
Tanto o piloto como o artilheiro terão projetado em tempo real as informações periféricas da aeronave e poderão comandar as armas com o simples movimento da cabeça em direção dos alvos.
Sobre o Milmi 28MN, com exclusividade tivemos acesso por meio do nosso colaborador a informações sobre a aeronave que fará o seu primeiro voo de testes nos finais de 2015. Tivemos acesso ao modelo em CAD do helicóptero e a primeira vista, trata-se de uma nova aeronave, cuja fuselagem mais limpa possui sensores internos de modo a reduzir a sua assinatura. O Helicóptero será produzido 70% materiais compostos e sua blindagem é de 8 a 15% mais eficiente que a aeronave atual, graças ao emprego de materiais compostos.
A primeira vista o helicóptero possui dimensões menores que as do Mi 28N, algo que calculamos entre 1 e 1,5 m. O nariz mais liso e possuindo um radar AESA na ponta se assemelha ao do modelo chinês WZ10 e difere completamente do clássico nariz de “Mickey Mouse” das versões anteriores. Entretanto, nas laterais nota-se a presença de duas grandes antenas dando a impressão de uso de antenas de radares de baixa frequência.
Outros destaques da aeronave são o uso de três motores e a exclusão da controversa câmara de resgate, Também, não se observa o uso de asas o que pode indicar que o novo modelo transporte seus mísseis internamente. Tal informação não o foi confirmada pela fonte consultada, porém esta ressaltou que o MN será uma aeronave muito mais manobrável e ágil que o Mi 28-N, terá relativa furtividade e utilizará uma nova gama de mísseis guiados por radar ativo e provavelmente por uma nova arma guia da a laser.
Outro ponto que chamou atenção no desenho é que o FLIR do nariz da aeronave é agora posicionado logo abaixo docockpit do piloto. A aeronave possui uma cabine mais confortável e favorece aos tripulantes uma maior relação de inclinação entre o piloto e o atirador. O canhão de 30 mm com sua torre giratória será posicionada no “queixo” da aeronave.
No quesito aviônica embarcada, o novo Mi-28MN terá inúmeros inputs do projeto KA-52, mas seus sistemas de guerra eletrônica, radares e FLIR integrados estão sendo desenvolvidos pelo KRET cuja fonte consultada afirma que muitos dos componentes foram desenvolvidos independentemente dos contratos governamentais.
Aliás destaca-se na MAKS esta tendência, com inúmeros programas sendo financiados por empresas e centro tecnológicos independentes, o que chama a atenção para a tradicional ruptura do financiamento estatal Russo a indústria aeroespacial e de defesa.
A fonte consultada afirma que o sistema de pilotagem da aeronave será integrado ao aviador via HMD, de modo que o helicóptero poderá efetuar sozinho o pouso seguro da aeronave sem a interferência da tripulação, voo pairado e novo posicionamento será efetuado com o simples movimento do aviador, o que deverá reduzir a carga de trabalho da tripulação.
Tu-160 M2
Sobre o programa Tu-160M2 o KRET trabalha no desenvolvimento de sistemas modulares que serão implantados para executar várias funções. Viktor Bondarev comandante do recém criado comando aeroespacial Russo, informou que a versão modernizada Tu-160 a M2, está programada para entrar em serviço em 2021. Possuirá uma suíte integrada de controle eletrônico, sistema de guerra eletrônica que trabalharão em duplicidade de modo a aumentar a sobrevivência do Bombardeiro em casos críticos.
O KRET trabalha no desenvolvimento de um conjunto de sistemas inteiramente novos para o M2, que será totalmente integrado nos aviônicos da aeronave. O renascimento da produção deste bombardeiro foi anunciado pelo ministro da Defesa russo, em abril de 2015. Dentre outras novidades, o bombardeiro transportará os novos mísseis de cruzeiro furtivos e armas de precisão atualmente em desenvolvimento.
PAK FA
A mais aguardada exibição em voo na MAKS 2015 foi sem dúvida o protótipo do caça PAK-FA T-50 que não decepcionou e que tal como os demais caças acrobáticos russos demonstrou nos céus as suas capacidades de manobra, um espetáculo a parte.
Porém o PAK FA não se destacou apenas pela sua exibição aérea mas também pelo que circulou no evento e que curiosamente ou não, não foi relatado na imprensa ocidental com pouquíssimas exceções.
Mais uma vez o KRET entrou em cena e se não roubou a cena, pelo menos deu impulso a inúmeras informações que circularam. Desta vez, o centro que desenvolveu nada menos que cerca de 75% da aviônica embarcada no PAK FA, informou que o programa não tem sofrido os atrasos relatados na mídia e que os sistemas de orientação totalmente digitais do T-50, já foram testados com o uso de novas armas em modo “Fire-and-forget”.
Mikheev informou que este feito (sistemas de armas e controle) permitem uma maior capacidade de detectar e rastrear alvos de modo totalmente autônomo. Mikheev afirmou que o sistema digital acompanha o alvo e o piloto ajusta os sistemas da aeronave para em seguida, efetuar o comando para o sistema que indica a melhor alternativa de arma e perfil de ataque no modo dispare e esqueça.
Falando do PAK FA…
A companhia russa Tikhomirov NIIR desenvolvedor do novo radar AESA Banda-X para o PAK FA informou que o programa segue seu cronograma e que o radar estará 100% operacional em 2016 e afastou os boatos da incapacidade da indústria russa de produzir os radares na cadência necessária.
Andrey Sukhanov, representante da produtora de radares informou que uma planta produtora encontra-se em fase final de implantação e que se destina a produzir os radares do PAK-FA.
Sukhanov acrescentou que a cadência de produção será atendida até 2020 e que após esta data, a planta poderá produzir mais radares para exportação além dos necessários para consumo interno. Mas antes o Radar precisa concluir a campanha de testes a qual não há data prevista para ser finalizada.
Construído especialmente para o caça de 5ª geração russo, o novo radar já está 99% pronto para entrar em produção seriada. Sukhanov informou que os testes estáticos foram finalizados e que o radar deve passar por uma campanha de testes de integração ao sistema de controle do caça e ao sistema de varredura lateral, de Banda L ao longo da fuselagem lateral.
Sukhanov ressaltou também que nesta fase será trabalhada a integração das novas armas desenvolvidas para o PAK-FA e que esta campanha não pode seguir um calendário especificado uma vez que novos sistemas estão sendo propostos para integrar a suíte de armas do caça e cujos desenvolvimentos, ou estão em andamento ou anda não se iniciaram. Novas armas para o PAK-FA também foram reveladas como segue neste artigo.
Mísseis
O espetáculo dos caças SU-35 e dos esquadrões acrobáticos russos e estrangeiros que se exibiram nos céus não foram tão atraentes quanto as exibições no pavilhão de eventos das tecnologias aeroespaciais as quais não passaram desapercebidas pelo público presente.
Certamente os estandes das diferentes divisões da Tactical Missile Corportion, e dos fabricantes independentes deram-nos uma noção do que vem por ai no tocante a atualização das armas inteligentes e mísseis de nova geração desenvolvidos para os caças, bombardeiros, navios e UCAV que a Rússia pretende operar a partir da próxima década.
Três das quatro novas armas guiadas apresentadas pela Tactical Missiles Corporation saltaram aos olhos do público. As bombas guiadas GROM 1 / 2 o moderníssimo míssil de cruzeiro X-59Mk2 além do míssil tático stand-off X-58USHKE / IIR de ataque anti-radiação.
As Grom 1 e 2 são a nova geração de bombas de alta precisão desenvolvidas pela Tactical Missile Corporation. Ambas usam asas em delta, para aumentar o alcance da armas. As barbatanas da cauda dobráveis permitem que a arma seja transportada internamente em baias. A GROM pesa cerca de 600 kg e a variante de foguete (GROM E1) carrega uma ogiva com um peso de 300 kg, enquanto a energia Grom-E2 pode transportar uma ogiva de 450 kg.
O Grom-1 é na verdade um míssil de cruzeiro guiado equipado com um motor, sistema de orientação inercial e de orientação por sistemas de satélite (Glonass). Já a Grom-2 é uma bomba de alta precisão sem motor que possui um aumento, de 150 kg de carga útil. O perfil de operação destas bombas se dá da seguinte forma, após a bomba ser liberada ela voa até atingir o alvo a distâncias máximas de 280 km.
Apesar das diferenças de design, ambas as bombas foram baseados no míssil guiado a laser KH-38. A construção inicial foi modificada com asas, e sua carga útil também foi redimensionada.
As novas bombas inteligentes são projetados para serem lançadas pelos bombardeiros Su-24, Su-34 bem como pelos caças Su-35, Su-30 MiG-29SMT. No entanto, o operador principal desta arma será no futuro o caça de 5ª geração PAK-FA o qual segundo o relatado no evento, poderá transportar internamente até 04 bombas GROM 2 de uma só vez na sua baia interna.
Segundo o analista militar Ruslan Pukhov, uma das principais características das bombas Grom é o seu design modular que permite a combinação de vários tipos de cargas e sistemas de orientação. As armas podem ser equipadas com quatro tipos de sistemas de orientação, por sistema inercial, laser, Radar, de imagens térmicas e com navegação por satélite.
A fonte relata ainda que as bombas podem ser equipadas com ogivas de fragmentação, ogivas de explosivo de alto desempenho e cargas perfurantes. As bombas foram desenvolvidas para destruir alvos na superfície e em zonas costeiras. Vários tipos de cargas úteis permitem a destruição de veículos leves e blindados pesados .
Outra novidade na MAKS 2015 foi a revelação do X-59Mk2, um míssil de cruzeiro de alta velocidade subsônica (próxima a Mach 1), a arma é projetada para ataque ar-superfície e possui um alcance de 290 km. O míssil transporta uma ogiva entre 300-700 kg e seu comprimento é de 4,2 m com uma envergadura quando as aletas são acionadas de 2,45 m.
Segundo a fonte consultada no evento, o míssil possui um perfil de voo à baixa altitude e pode acertar alvos em ângulos de 45º a uma velocidade terminal de 1.000 km / h e possui uma precisão (CEP) entre 3-5m. A arma de nova geração pode ser empregada em ataques contra navios e alvos em superfície.
Outra nova arma guiada exibida pelo Tactical Missiles Corporation foi a bomba guiada de 256 kg, uma arma que utiliza o kit de orientação SAL orientado pelo sistema GLONASS permitindo-lhe atingir alvos com uma precisão de menos de cinco metros. A bomba utiliza três modod de fusão que permitem impacto, delay (penetração) ou efeitos de explosão / termobárica.
A arma guiada de 3,2 metros e diâmetro de 255 mm, é igualmente projetada para transporte nas baias interiores do PAK FA e de UCAV que no futuro, serão seus principais lançadores.
Igualmente debutando na MAKS 2015, o X-58USHKE / IIR é uma variante modificada da arma que fora revelada em 2011 ao público mundial e foi concebido para ser transportado internamente na baia de armas do T-50 ou mesmo nos pontos fixos externos dos caças da Sukhoi, Su-35, 34 e 30.
A variante IIR utiliza novos sensores com superposição de imagens de câmera de alta resolução e infravermelho que permitem ao míssil processar alvos não emissores de radiação neste comprimento de onda mas foram travados pelo radar ou que tentaram Jammear o radar antes do ataque.
continua…
Plano Brasil
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