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terça-feira, 22 de setembro de 2015

O xadrez por trás dos refugiados da Síria


Paulo Diniz
Publicado em O Tempo, 20/9/2015
O drama dos refugiados sírios, que buscam chegar aos países mais ricos da Europa, tem atraído a atenção de todo o mundo. Entretanto, mesmo as dimensões dessa tragédia humanitária não são capazes de refletir a gravidade da situação que aflige hoje a Síria. É tamanho o número de forças e interesses envolvidos nesse país que se torna muito difícil prever quando ou como os enfrentamentos podem ter fim.

Começando pelo fato mais recente: o engajamento militar da Turquia, compondo a força aérea multinacional, liderada pelos Estados Unidos, e também enviando tropas terrestres para ações pontuais. Além de colaborar no combate aos extremistas do Estado Islâmico, os turcos trouxeram ao campo de batalha sírio mais um complicador político do que uma ajuda militar: realizam também ataques às forças curdas, principais antagonistas do EI, mas que já mantinham um enfrentamento armado em relação à Turquia há alguns anos, pois lutam pelo estabelecimento do Curdistão independente, cujo território incluiria algumas províncias turcas.

Essa relação traz ainda outro agravante: nas últimas eleições gerais, em junho passado, o poderoso presidente turco Recep Erdogan sofreu uma considerável derrota nas urnas, principalmente devido à expansão nacional de um partido de origem curda, que o impediu de construir a maioria parlamentar que desejava. Sendo a Turquia um regime parlamentarista, a ausência de maioria parlamentar, ou de uma coalizão que cumpra esse papel, demanda a realização de um novo pleito, previsto para novembro. Nesse ambiente tenso, o presidente turco busca atacar os curdos da Síria como forma de influenciar o cenário eleitoral de seu país, pintando tal povo como inimigo da nação e, assim, afastando votos do novo partido que centraliza a oposição a seu regime.

Não bastasse abrigar rivalidades eleitorais, o conflito sírio também envolve a crescente oposição entre EUA e Rússia, no melhor estilo da antiga Guerra Fria. Os norte-americanos fornecem material militar, treinamento e apoio aéreo efetivo a grupos moderados voltados a derrubar o governo de Bashar al-Assad. Já os russos têm investido pesadamente na manutenção do regime de Assad, não apenas fornecendo material militar em grande escala ao governo, como também colocando no campo de batalha algumas de suas próprias tropas de combate, de acordo com relatos frequentes dos demais envolvidos na guerra.

Outra complexa relação que contamina os acontecimentos na Síria envolve a intensa movimentação do Irã, em busca de se tornar um protagonista político do mundo islâmico. O governo de Teerã não apenas financia diretamente a sobrevivência de Assad, como também participa indiretamente de combates por meio da milícia libanesa Hezbollah, à qual direciona recursos há vários anos.

Apesar de todos esses países terem sofrido de alguma forma os efeitos prejudiciais da instabilidade política que tomou conta do Iraque depois de 2003, agora contribuem, com sua atuação na Síria, para reproduzir o mesmo cenário de caos nacional.

Oriente Mídia

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