F. William Engdahl
Apesar do falhanço da operação militar secreta da OTAN contra a Síria, a retirada pelos ocidentais tropeça em dois dilemas. Podem Washington e os seus aliados refrear-se de apanhar as reservas de gás Sírias? E, podem eles deixar a Síria na posição de ser o único estado na região que escape ao controlo da Irmandade Muçulmana?
REDE VOLTAIRE
- Numa sessão de emergência a 4 de Outubro de 2012, o parlamento da Turquia aprovou uma lei a autorizar a acção militar contra a Síria.
Em 3 de Outubro de 2012, os militares Turcos lançaram repetidos ataques de morteiro para o interior de território Sírio. A acção militar, que foi utilizada pelos militares Turcos para, convenientemente, estabelecer uma ampla terra-de-ninguém, uma “zona tampão”de 10 quilómetros de largura dentro da Síria, foi-o em resposta às alegadas mortes, pelas forças armadas Sírias, de vários civis Turcos ao longo da zona fronteiriça. Há uma ampla especulação que um dos morteiros Sírios, que matou cinco civis Turcos, pode muito bem ter sido disparado por forças da oposição, com apoio da Turquia, no intento de dar à Turquia um pretexto para se movimentar militarmente, em jargão da inteligência militar uma operação de ‘bandeira falsa’.
[1]O muito estimado pela Irmandade Muçulmana ministro dos Negócios Estrangeiros Turco, o imperscrutável Ahmet Davutoglu, é o principal arquitecto governamental da auto-destrutiva estratégia Turca de derrube do seu antigo aliado Bashar Al-Assad na Síria. [2]
De acordo com uma investigação, desde 2006, sob o governo do Islamista Sunita- Primeiro Ministro, Recep Tayyip Erdoğan, e do seu partido pró-Irmandade, (muçulmana – NdT),AKP, a Turquia tornou-se uma nova sede para a Central da Irmandade Muçulmana [3]. Segundo uma fonte bem-informada, em Istambul, diz o relatório, que antes das últimas eleições Turcas, o AKP de Erdogan recebeu um “donativo” de $10 biliões-(de US dólares-NdT) da monarquia Saudita, o coração do Salafismo jihadista mundial, sob a estrita cobertura fundamentalista do Wahabismo [4]. Desde 1950, quando a CIA trouxe do exílio os membros liderantes da Irmandade Muçulmana Egípcia para a Arábia Saudita, que tem existido uma fusão entre o ramo Saudita do Wahabismo e o fundamentalismo jihadista agressivo da Irmandade [5].
A resposta Turca ao solitário disparo de morteiro Sírio, que levou a um imediato pedido de desculpas Sírias pelo incidente, foi pôr a zona de fronteira em completo estado de guerra entre duas nações, que até ao ano passado, eram historicamente, culturalmente, economicamente e mesmo em termos de religião, os mais chegados dos aliados.
O perigo desta guerra é ainda mais sério. A Turquia é um membro pleno da OTAN cuja carta, explicitamente, declara, que um ataque contra um estado da OTAN é considerado como um ataque contra todos os seus membros. O facto que, tanto a Rússia como China, estados com armas nucleares, tenham tornado a defesa do regime Sírio de Bashar al-Assad uma prioridade estratégica coloca o espectro de uma Guerra Mundial mais próxima do que a maioria de nós gostaria de imaginar.
Numa análise, em Dezembro de 2011, das forças em disputa na região, o antigo analista da CIA Philip Giraldi fez a seguinte presciente observação:
“A OTAN está já clandestinamente engajada no conflito Sírio, com a Turquia tomando a dianteira como Proxy dos E.U.. O ministro dos Negócios Estrangeiros de Ancara, Ahmet Davutoglu, admitiu abertamente que o seu país está preparado para invadir, tão logo surja o acordo entre os aliados Ocidentais para o fazer. A intervenção seria baseada em princípios humanitários, para defender a população civil, baseada na “responsabilidade para proteger”, doutrina que foi invocada para justificar a Líbia ( a guerra da Otan contra Kaddafi-NdT). Fontes Turcas sugerem que a intervenção começaria com a criação de uma buffer zone-(zona tampão,NdT)- ao longo da fronteira Turco-Síria, e depois seria alargada. Alepo, a maior e mais cosmopolita cidade Síria , seria a joia da coroa no alvo das forças libertadoras.
Aviões de guerra da OTAN, disfarçados, estão a chegar às bases militares Turcas perto de Iskenderum, na imediação da fronteira Síria, trazendo armas dos arsenais do falecido Muammar Kaddafi assim como voluntários do Conselho Nacional de Transição Líbio, que têm experiência em camuflar voluntários locais contra soldados treinados, uma habilidade que eles adquiriram no confronto com o exército de Kaddafi. Iskenderum é também a sede do Exército Sírio Livre, o ramo armado do Conselho Nacional Sírio. Instrutores das forças especiais Francesas e Britânicas estão no terreno, apoiando os rebeldes Sírios, enquanto a CIA e as Ops Esp dos EU providenciam equipamento de comunicações e inteligência para apoiar a causa rebelde, permitindo aos combatentes evitar as concentrações dos soldados Sírios”. [6]
Pouco notado foi o facto que no mesmo dia em que a Turquia lançou a sua desproporcionada resposta, na forma de um ataque militar ao território Sírio, o qual ainda decorria ao tempo deste escrito, as Forças de Defesa de Israel (IDF- em inglês,NdT)lançavam o que, aparentemente, era uma acção para distrair a atenção Síria da acção Turca, e criar o cenário pavoroso de uma guerra em duas-frentes, tal como aconteceu à Alemanha em duas guerras mundiais.
A IDF concentrou um número considerável de tropas nos estratégicos Montes Golan, fronteiriços aos dois países, os quais, desde que Israel os ocupou na guerra de 1967, tem sido uma área sem tensões. [7]
O desenrolar da nova fase de intervenção militar estrangeira directa pela Turquia, apoiada, de facto, pelo regime Israelita de extrema-direita de Netanyahu, segue à letra, de forma bastante curiosa, um cenário delineado por um proeminente neo- conservador Think Tank de Washington,The Brookings Institution. Na sua publicação corrente sobre estratégia, de Março de 2012, Saving Syria: Assessing Options for Regime Change, os estrategas de geo-política do Brookings avançaram um plano para manipular a chamada preocupação humanitária com mortes civis, como no caso da Líbia em 2011, para justificar uma agressiva intervenção militar na Síria, algo que não tinha sido feito antes disto [8].
O relatório do Brookings elabora o seguinte cenário:
Israel poderá posicionar forças nos Montes Golã, ou na proximidade deles e, ao fazê- lo, poderá impedir as forças do regime de suprimir a oposição. Esta movimentação pode levantar receios no regime de Assad de uma guerra em várias frentes, particularmente se a Turquia estiver determinada a fazer o mesmo, na sua fronteira, e a oposição Síria for devidamente alimentada com armas e treino [9].
Isto parece corresponder, precisamente, ao que foi desenvolvido nos primeiros dias de Outubro de 2012. Os autores do relatório do Brookings estão ligados a alguns dos mais proeminentes falcões de guerra neo-conservadores, por trás da guerra Bush- Cheney no Iraque. O seu patrocinador, o Saban Center for Middle East Policy, inclui desde actuais conselheiros de política estrangeira ao candidato Republicano de extrema-direita Mitt Romney, o favorito declarado,dos candidatos, para o PM de Israel Netanyahu.
O Brookings Saban Center for Middle East Policy que lançou o relatório, é a criação resultante do maior donativo de Haim Saban, um Israelita-Americano bilionário dos medias que também controla a enorme gigante dos media Alemães Pro7. Haim Saban é claro acerca do seu objetivo de promover interesses específicos de Israel através da sua filantropia. O The New York Times classificou-o uma vez “como um incansável líder-de-claque por Israel.” Saban disse ao mesmo jornal numa entrevista em 2004, “Eu sou um tipo de interesses fixos e o meu interesse é Israel”. [10]
Os académicos, assim como a direcção do Saban, têm uma clara posição neo- conservadora e pró partido Likud. Incluem, antes ou actualmente, Shlomo Yanai, ex- chefe do gabinete do planeamento militar das Forças de Defesa de Israel; Martin Indyk, ex-Embaixador dos EU em Israel, e fundador do pró-Israel Washington Institute for Near East Policy (WINEP), um dos grandes lobies políticos do Likud em Washington. Os associados convidados tem incluído Avi Dicter, ex-chefe do Shin Bet; Yosef Kupperwasser, ex-chefe da Direcção no Departamento de Pesquisas do Gabinete da Inteligência Militar, das Forças de Defesa de Israel. Académicos residentes também incluem Bruce Riedel, perito do Médio-Oriente na CIA há 30 anos, e conselheiro de Obama sobre o Afeganistão [11]; Kenneth Pollack, outro antigo perito da CIA sobre o Médio-Oriente, que foi acusado num escândalo com a espionagem de Israel quando era funcionário segurança nacional na Administração Bush. [12]
Porque quereria Israel ver-se livre de “um inimigo que conhece,” Bashar al-Assad, trocando-o por um regime controlado pela Irmandade Muçulmana? Então a segurança de Israel seria, aparentemente, mais ameaçada pela emergência de regimes, de linha-dura, da Irmandade Muçulmana do sul, no Egipto, ao seu norte na Síria e, talvez em breve, também na Jordânia.
A dimensão geopolítica
A questão real a colocar nesta altura é o que poderá ligar Israel, a Turquia, o Catar, na forma de uma aliança profana de um lado, e a Síria de Assad, o Irão, a Rússia e a China de outro lado, numa tal confrontação, mortal, sobre o futuro político da Síria? Uma resposta é a geopolítica da energia.
O que ainda tem que ser analisado a fundo, nas avaliações geopolíticas sobre o Médio-Oriente, é a subida de dramática importância do controlo do gás natural para o futuro, não apenas dos países do Médio-Oriente produtores de gás, como também dos EU e Eurásia, incluindo a Rússia, enquanto produtores, e da China como consumidora.
O gás natural está, rapidamente, a tornar-se a “energialimpa” de escolha, para substituir a produção de electricidade a partir do carvão e do nuclear através da União Europeia, sobretudo a partir da decisão Alemã de fasear a saída do nuclear, após o desastre de Fukushima. O Gás, é olhado como muito mais “amigo do ambiente” em termos da chamada “pegada de carbono.” O único modo realísta dos governos da UE, da Alemanha à França à Itália e à Espanha, serem capazes de cumprir as metas, impostas pela UE, de redução das emissões de CO2 pelo ano de 2020, será uma séria mudança para usar o gás em vez do carvão. O gás reduz as emissões de CO2 cerca de 50-60% em relação ao carvão. [13] Dado que o custo económico do uso de gás, comparado com o da energia gerada pelo vento ou outras formas alternativas de energia, é brutalmente mais baixo,o gás está a tornar-se rapidamente a energia com procura na U.E, o maior mercado emergente para o gás no mundo.
A descoberta de enormes jazidas de gás em Israel, no Catar e na Síria junto à emergência da UE como o maior potencial consumidor de gás natural, a nível mundial, combina-se para criar as sementes do presente choque geopolítico sobre o regime de Assad.
O gasoduto Síria-Irão-Iraque
Em Julho de 2011, enquanto as operações de desestabilização da OTAN e dos estados do Golfo contra Assad na Síria estavam em completa viragem, os governos da Síria, Irão e do Iraque assinaram um histórico acordo sobre um gasoduto que passou, largamente, em branco nos noticiários da CNN sobre o conflito Sírio. O gasoduto, cujo custo é estimado em $10 biliões de dólares, e levará três anos a completar, irá desde o porto Iraniano de Assalouyeh, perto do campo de gás de Pars Sul no Golfo Pérsico, a Damasco na Síria via território do Iraque. O Irão, finalmente, planeia então estendê-lo de Damasco a um porto Libanês no Mediterrâneo, onde o gás seria embarcado para os mercados da UE. A Síria compraria gás Iraniano assim como o Iraque.
O campo de Pars Sul cujas reservas de gás estão numa gigantesca jazida, que está dividida entre o Catar e o Irão no Golfo, é avaliado como a maior jazida de gás individualmente considerada do mundo. [14] De facto, seria um gasoduto Shiita partindo do Shiita Irão, via Iraque de maioria-Shiita, até a amigável-Shiita Alauíta Síria de Al-Assad.
A adicionar ao drama geopolítico está o facto de a jazida de gás de Pars Sul se situar, ironicamente, no meio do território que divide o Golfo Pérsico entre o Shiita Irão e o Sunita Salafista Catar. Também acontece que o Catar é, precisamente, um centro coordenador do Comando Central do Pentágono Americano, quartel-general da Força Aérea dos E.Unidos na região, do Grupo No. 83 Expedicionário Aéreo da RAF No83, (RAF-sigla da força aérea inglesa, NdT), e do 379o Grupo Aéreo Expedicionário da USAF (siglaem inglês para força aérea dos E.U., NdT). Em resumo, o Catar, para além de possuir e albergar a anti-Al-Assad estação de TV, Al-Jazeera, [15], que destila propaganda anti-Síria através do mundo Árabe, está estreitamente ligado à presença militar dos E.U e da OTAN no Golfo Pérsico.
O Catar, aparentemente, tem outros planos para o seu quinhão do campo de Pars Sul, e não tenciona juntar forças com o Irão, Síria e Iraque. O Catar não tem interesse no sucesso do gasoduto Irão-Iraque-Síria, o qual seria inteiramente independente das rotas de trânsito do Catar, ou da Turquia, para os mercados emergentes da UE. De facto, está a fazer todo o possível para o sabotar e,incluindo, armar a tropa fandanga dos combatentes da “oposição” Síria, muitos deles Jihadistas, enviados para lá de outros países como a Arábia Saudita, o Paquistão e a Líbia.
A reforçar ainda mais a determinação do Catar para destruir a cooperação no gás do eixo Síria-Irão-Iraque, está a descoberta em Agosto de 2011pelas companhias Sírias, de um enorme campo de gás em Qara, perto da fronteira com o Líbano, e perto da base naval alugada à Rússia no porto de Tarsus, no Mediterrâneo Sírio. [16] Toda a exportação de gás Sírio, ou Iraniano, para a EU, seria feita através do porto controlado pelos Russos em Tarsus. De acordo com fontes Argelinas bem- informadas, as recém-descobertas jazidas de gás Sírias, embora o governo de Damasco o esteja a desvalorizar, são estimadas como iguais ou superiores às do Catar.
Como o bem-informado analista da Asia Times’, Pepe Escobar, salientava em artigo recente, o esquema do Catar para exportação das suas enormes reservas de gás requer a via do Golfo de Aqaba na Jordânia, um país onde a ameaça da Irmandade Muçulmana à ditadura do Rei é também perigosa. O Emir do Catar fez, aparentemente, um pacto com a Irmandade Muçulmana, em que ele apoia a sua expansão internacional em troca de um pacto de paz, em casa ,no Catar. Um regime da Irmandade Muçulmana na Jordânia e também na Síria, apoiado pelo Catar, mudaria de forma total a geopolítica do mercado de gás mundial, súbita e decisivamente, a favor do Catar, e em desvantagem da Rússia, Síria, Irão e Iraque. [17] Isto seria também um golpe muito negativo para a China.
Como assinala Escobar, “o objetivo do Catar é claro: impedir o gasoduto Irão- Iraque-Síria de $10 biliões de dólares , um negócio que foi selado mesmo já com a revolta Síria a fermentar. Aqui vemos o Catar em competição directa tanto com o Irão, (como um produtor), como com a Síria, (como destino),e em menor extensão, com o Iraque, (como país de trânsito). É útil lembrar que Teerão e Bagdade são, ferozmente, contra qualquer mudança de regime em Damasco.” E acrescenta, “se houver mudança de regime na Síria – promovida com a ajuda Catari- as coisas tornam-se muito mais fáceis em termos de controlo do gasoduto. Um mais do que provável, post-Assad ,regime da Irmandade Muçulmana(IM), mais do que daria as boas-vindas a um gasoduto Catari. E isto levaria uma natural extensão para a Turquia”. [18]
O dilema do gás para Israel
Para complicar, ainda mais todo o quadro, está a recente descoberta da enorme jazida off-shore de gás natural Israelita.
O campo de gás natural de Tamar situado ao largo da costa do norte de Israel poderá começar a fornecer gás, para uso em Israel, no final de 2012. A viragem no jogo foi a descoberta surpresa, nos finais de 2010, de uma enorme jazida de gás natural no off- shore de Israel naquela que os geólogos chamam a Levantina ou a Bacia Levantina. Em Outubro de 2010, Israel descobriu no mar, que ele declara ser a sua Zona Económica Exclusiva (EEZ),uma maciça, “super-gigante”, jazida de gás . [19]
O achado está a umas 84 milhas a oeste do porto de Haifa e a três milhas de profundidade. Eles chamaram-no de Leviatã, de acordo com o nome do monstro marinho Bíblico . Três companhias de energia Israelitas em cooperação com a Texas Noble Energy, de Houston, anunciaram estimativas iniciais, para a jazida, de 16 triliões pés cúbicos de gás – tornando-o no maior achado de gás de águas-profundas numa década, acrescentando ainda mais descrédito às teorias do “pico do petróleo” em que o planeta estava à beira de dramáticas e permanentes carestias de petróleo, gás e carvão. Numa perspectiva numérica, apenas este campo de gás, o Leviatã, conteria reservas suficientes para suprir os gastos de gás de Israel pelos próximos 100 anos. [20]
A auto-suficiência energética obcecou o estado de Israel desde a sua fundação em 1948. Numerosas tentativas de exploração de petróleo e gás foram repetidamente feitas com escassos resultados. Ao contrário dos seus vizinhos Árabes, cheios de lençóis de petróleo, Israel parecia sempre não ter sorte. Então em 2009, o sócio Texano de Israel nas pesquisas de exploração, a Noble Energy descobriu o campo de Tamar na Bacia Levantina, a cerca de 50 milhas a oeste do porto Israelita de Haifa com umas estimadas reservas de 8.3 tcf (triliões pés cúbicos, em Inglês, NdT) de gás natural da máxima qualidade. Tamar foi a maior descoberta de gás a nível mundial em 2009.
- O Instituto de Pesquisa Geológica dos EUA estima em cerca de 1.7 milhões de barris de petróleo e cerca de 122 tcf de Gás na Bacia Levantina.
Na altura, o total das reservas de gás Israelitas era estimado em apenas 1.5 tcf. As estimativas governamentais baseando-se no único campo operacional de Israel, Yam Tethys, o qual fornece cerca de 70 porcento do gás natural do país, seria que esgotariam dentro de três anos.
Com Tamar, as perspetivas começam a parecer muito melhores. Então, precisamente um ano após Tamar, o mesmo consórcio dirigido pela Noble Energy acertou em cheio no maior achado de gás, em décadas da sua longa história, com Leviatã, na mesma Bacia geológica Levantina. Estimativas presentes apontam para que as jazidas do campo Leviatã contenham pelo menos 17 tcf de gás. Israel foi de “esfomeado” do gás para a fartura num par de meses. [21]
Agora Israel enfrenta um dilema estratégico, e muito perigoso. Naturalmente, Israel está muito pouco agradado por ver a Síria de al-Assad’s, ligada ao arco inimigo Israelita, Irão-Iraque e Líbano, a competir com uma exportação de gás Israelita para os mercados da UE. Isto poderá explicar porque o governo Israelita de Netanyahu se tem estado a envolver dentro da Síria, junto com as forças anti – al-Assad. Contudo, um domínio na Síria pela Irmandade Muçulmana, conduzida pela liderança de Mohammad Shaqfah, confrontaria Israel com uma vizinhança muito mais hostil ali, que, o que o golpe da Irmandade Muçulmana, do Presidente Mohamed Morsi no Egipto, colocou na fronteira sul de Israel.
Não é segredo que há uma inimizade, roçando o ódio, entre Netanyahu e a Administração Obama. O Departamento de Estado e a Casa Branca de Obama têm apoiado abertamente as mudanças de regime, para a Irmandade Muçulmana, no Médio-Oriente. A cimeira de Hillary Clinton com o ministro Turco Davutoglu em Agosto deste ano foi claramente dirigida para pressionar a Turquia a escalar a sua intervenção militar na Síria, mas sem o apoio directo dos EU pela vontade de querer evitar o envolvimento numa nova “debâcle” no Médio-Oriente, devido às eleições americanas. [22]
O Chefe de Staff Responsável no Departamento de Estado, Huma Abedin têm sido acusado por vários membros Republicanos do Congresso de laços com organizações controladas pelos Irmãos Muçulmanos. Dalia Mogahed, a nomeada de Obama para o Advisory Council on Faith-Based and Neighborhood Partnerships- (algo como o Conselho Consultivo para as Parcerias da Fé, NdT), também membro do conselho consultivo do Departamento da Homeland Security dos EU-(Segurança Interna, NdT), é abertamente conotada com a Irmandade Muçulmana e uma declarada inimiga de Israel, assim como ainda se manifesta pelo derrube do regime Sírio de al-Assad. [23]
A Washington de Obama parece de facto estar a apoiar o cavalo da Irmandade Muçulmana na corrida pelo controlo dos fluxos de gás do Médio Oriente.
E o jogo Russo
Enquanto Washington corre no fio da navalha temporariamente apostando enfraquecer a al-Assad até à morte sem aparecer directamente envolvida, a Rússia, pela sua parte, está a jogar um jogo de vida e morte pelo futuro do seu mais efectivo trunfo geopolítico — o seu papel como o fornecedor líder no gás natural à UE. Este ano a companhia estatal Russa Gazprom começou a fornecer o gás Russo ao norte da Alemanha através do gasoduto Nord Stream, sob O Mar Báltico desde um porto perto de São Petersburgo. Estrategicamente vital, agora, para o futuro papel da Rússia como fornecedor de gás à UE, será a sua capacidade para jogar um papel estratégico na exploração das recém achadas reservas de gás no seu antigo estado-cliente da Guerra Fria, a Síria. Moscovo têm, de há muito, estado engagada na promoção do seu gasoduto South Stream para a Europa, como uma alternativa ao gasoduto Americano Nabuco, o qual foi pensado para deixar Moscovo fora de jogo. [24]
- Rotas dos gasodutos concorrentes na importação de Gás do Cáspio, e Médio-Oriente para a Europa do Sudoeste
- Gasodutos planeados:- amarelo= South Stream
vermelho traço = Nabuco
Nesta altura a Gazprom é já a maior fornecedora de gás natural à UE. Com o Nord Stream e outras linhas a Gazprom planeia aumentar o seu fornecimento de gás à Europa este ano em 12% para 155 biliões de metros cúbicos. Ela agora controla 25% do total do mercado de gás Europeu e visa atingir os 30% com a realização do South Stream e outros projetos.
Rainer Seele, presidente da Alemã Wintershall, a sócia da Gazprom no Nord Stream, sugere o jogo da geopolítica por detrás da decisão de se juntar ao South Stream: “Nacorrida global contra os países da Ásia por matérias-primas essênciais,o South Stream, tal como o Nord Stream, assegurarão o acesso aos recursos energéticos que são vitais para a nossa economia.” Mas na verdade, mais do que a Ásia, o foco real do South Stream está no Ocidente. A batalha actual entre o Russo South Stream e o Nabucco, apoiado em Washington, é intensamente geopolítica. O vencedor terá uma vantagem enorme no terreno político futuro da Europa. [25]
Agora a Síria emergiu como uma nova opção major de fonte para o fluxo de gás para a UE controlado pela Rússia. Se al-Assad sobreviver, a Rússia aparece na situação como salvadora para jogar um papel decisivo na exploração e no desenvolvimento do gás Sírio. Israel, onde a Rússia também tem trunfos a jogar, poderá teoricamente saltar para um consórcio de Rússia-Síria-Iraque-Irão onde Israel e o Irão cheguem a algum modus vivendi no nuclear e noutros problemas, o que não é impossível com uma mudança na constelação política em Israel após as futuras eleições. A Turquia, que se encontra presentemente numa intensa batalha interna entre Davutoglu e o Presidente Gül de um lado e Erdogan do outro, está dependente da Gazprom Russa para algo como 40% do gás para a sua indústria. Se Davutoglu e a sua facção perderem, a Turquia poderá jogar um papel muito mais construtivo na região como país de trânsito para o gás Sírio e Iraniano.
A batalha pelo futuro controlo da Síria está no coração desta enorme jogo de guerra e de guerra geopolítica. A sua decisão terá enormes consequências seja para a paz no mundo seja para um conflito, mortandade e guerra sem fim. A Turquia, que é membro da OTAN, está a brincar com o fogo assim como o emir do Catar, tal como Israel de Netanyahu e os membros da OTAN, França e os EUA.O gás natural é uma matéria inflamável que está a fazer arder este insano bailado pela energia na região.
F. William Engdahl Jornalista norte-americano, especialista em questões energéticas e geopolíticas. Última publicação: Gods of Money: Wall Street and the Death of the American Century(2010).
Tradução Alva
Oriente Mídia
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