PETRÓLEO E PODER ECONÔMICO DO ESTADO ISLÂMICO – A RELAÇÃO OBSCURA ENTRE TERRORISMO E O SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL - Noticia Final

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sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

PETRÓLEO E PODER ECONÔMICO DO ESTADO ISLÂMICO – A RELAÇÃO OBSCURA ENTRE TERRORISMO E O SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL

O chamado Estado Islâmico [EI] controla um 

território calculado em 210 mil quilômetros

 quadrados envolvendo parte da Síria e do 

Iraque. O domínio desta vasta região 

possibilitou o acesso e exploração econômica 

de campos petrolíferos, mineração, agricultura, 

estações de rádio e televisão.

Os militantes do Estado Islâmico não convertem-se em operários, agricultores, funcionários públicos no momento da ocupação destas áreas preferindo estabelecer um sistema de tributação e no caso do petróleo aplicam a regra máxima do liberalismo garantindo à iniciativa privada a sua produção e comercialização.

As informações referentes ao volume de recursos a disposição do EI apresentam variações e os cálculos mais pessimistas mostravam, em dezembro de 2014, a existência de dois trilhões de dólares em ativos e um rendimento diário de três milhões de dólares somente com o contrabando de petróleo.

Naturalmente a movimentação destes valores financeiros necessita do apoio do sistema bancário internacional possibilitando, inclusive, o saque em caixas eletrônicos dos salários para os terroristas do grupo espalhados por diferentes pontos do planeta ou compra de armamentos e veículos, de luxo ou combate, da Toyota e outras marcas incluindo estadunidenses.

Como fonte de recursos financeiros o EI também atua em: tráfico de pessoas, venda de antiguidades, sequestro. Também recebem doações dos príncipes árabes e alguns pesquisadores ainda detectam a presença destes terroristas no mercado das drogas.

O poder econômico do EI fundamenta-se, principalmente, no controle de áreas produtoras de petróleo e nestas encontramos, inclusive, a existência e funcionamento de refinarias.

Apesar dos anunciados bombardeios às refinarias o EI revela a sua capacidade de sobrevivência ao importar as chamadas refinarias modulares ou mini refinarias que construídas em blocos e ligadas por tubos possuem a condição de transferência ou de rápido reparo das partes danificadas.

Para meditação: As fábricas destes modelos de refinarias encontram-se, em sua maior parte, nos Estados Unidos e na China. O pacote de venda inclui desde o estudo do tipo de petróleo a ser refinado a eventual manutenção.

Apesar de denominadas também de mini refinarias trata-se de uma estrutura de tamanho considerável percorrendo um longo caminho da fábrica até o seu comprador e não devemos esquecer que o negócio com os fabricantes dificilmente foi fechado em dinheiro vivo.

O Estado Islâmico e o petróleo roubado da Síria


Em fevereiro de 2015 o insuspeito The Washington Institute for Near East Policy informava que “o contrabando de petróleo bruto e derivados é fundamental a manutenção do Estado Islâmico”.

A este respeito torna-se necessário entender a importância do petróleo para economia da Síria. Sobre o tema o Congressional Research Service dos Estados Unidos em abril de 2015 comunicava aos senadores e deputados dos Estados Unidos que o petróleo até 2011, antes da guerra civil, representava para a Síria 25% de suas receitas e 45% de suas exportações.
Além do conflito armado, completava o informe oficial, as sansões dos Estados Unidos contra o governo Bashar al-Assad, contribuíram para a queda e impedimentos legais para a comercialização do petróleo sírio.

Assim não fica difícil concluir que o espaço comercial torna-se, inclusive em função do bloqueio comercial da Síria, aberto aos contrabandistas prontos para atender a qualquer interessado.
Retornando ao informe do Congresso dos Estados Unidos o controle das áreas produtoras de petróleo na Síria encontram-se controladas pelo EI enquanto as instalações de exportação continuam em poder do governo.

Ao que sabemos este fato não impediu o contrabando de petróleo por parte do EI considerando o conteúdo do citado informe do Congresso dos Estados Unidos: “O petróleo [controlado pelo EI] é enviado por caminhões à fronteira com a Turquia e vendido a corretores de petróleo”.

Neste sentido o informe do The Washington Institute for Near East Policy completa: “O contrabando de petróleo bruto e derivados é fundamental para a manutenção do Estado Islâmico (…) gerando entre dois e três milhões de dólares ao dia”.

As sanções econômicas na origem das redes de contrabando
A culpa é do Saddam

Os Estados Unidos apresentam de forma rotineira a punição comercial aos governantes que não atendem de forma satisfatória as suas determinações. A vitimas deste ato autoritário e imperialista constituem, via de regra, de países produtores de petróleo com limitado poder de defesa militar.

Não raramente segue-se ao bloqueio a formação de um “exército rebelde” que da noite para o dia apresenta-se bem armado dominando vastas áreas com potencial ou produtoras de petróleo.

Os casos mais recentes encontraremos na Líbia e Síria. No passado, não muito distante, O Iraque passou por um roteiro semelhante com consequências cruéis para a população civil.
Ao privar um país da comercialização de sua principal fonte de riqueza a consequência imediata foi a fome. Este fato escandalizou o mundo obrigando a criação pela ONU, como forma de “humanizar” o bloqueio dos Estados Unidos, o programa “petróleo por alimentos” permitindo o escambo do mineral por produtos alimentícios.

O resultado paralelo do bloqueio ao Iraque foi a criação de uma rede de contrabando base do atual modelo existente na fronteira com a Turquia conforme revela o anteriormente citado informe do The Washington Institute for Near East Policy: “A atual rede de contrabando de petróleo utilizada pelo Estado Islâmico é antiga e foi iniciada por Saddam Houssein em função do embargo comercial”.

O Estado Islâmico, um inimigo dos Estados Unidos?

Desde julho de 2014 os Estados Unidos, detentor de um poderoso complexo de guerra, combatem diretamente o EI apresentando resultados pífios no campo militar e econômico.

A este respeito David S. Cohen, ex subsecretário para o terrorismo e inteligência financeira dos Estados Unidos, revelava em outubro de 2014: “Do mesmo modo como acontece com o resto da campanha [militar] contra o Estado Islâmico, nossos esforços para combater o seu financiamento vai levar tempo. Nós não temos nenhuma bala de prata, nenhuma arma secreta para esvaziar os cofres do Estado Islâmico da noite para o dia.”

Vejamos: O Estado mais poderoso do mundo do ponto de vista militar e inteligência que consegue espionar os dirigentes de países como a Alemanha, segundo um membro de seu governo, não possui informações suficientes para barrar no campo militar e econômico um grupo de terroristas constituído, em sua base, por adolescentes?

O EI não brotou de um poço de petróleo no Iraque em 2014 o grupo terrorista articula-se com outras forças desde 2004 existindo grande dificuldade para uma pessoa normal acreditar no desconhecimento dos Estados Unidos dos objetivos e atividades de seus membros.

A este respeito o professor Gunter Meyer – diretor do Centro de Pesquisa para o Mundo Árabe da Universidade de Mainz – apresenta uma interessante afirmativa publicada em junho de 2014 no site do Deutsche Welle: “A fonte inicial do financiamento do Estado Islâmico tem origem nos países do Golfo [Pérsico] principalmente a Arábia Saudita, Qatar, Kuwait e os Emirados Árabes Unidos”.

E continua o professor Meyer ao explicar o apoio destes aliados de primeira hora dos Estados Unidos ao EI: “A motivação deste apoio é a luta contra o regime do presidente Bashar al Assad na Síria”.

Quanto a convivência ou conivência entre os Estados Unidos e EI o professor Meyer apresenta uma constatação demolidora: “Durante a conquista de Mosul [Iraque] os membros do Estado Islâmico ostentavam grande quantidade de armas e veículos estadunidenses”.
O controle de áreas produtoras de petróleo no Iraque desde 2013 possibilitou ao EI a produção de pelo menos 10 mil barris ao dia.

Armas e acesso facilitado ao sistema financeiro internacional constituem poderosos insumos ao fortalecimento do Estado Islâmico. A origem apresenta-se de forma cristalina.

O sistema financeiro internacional e terrorismo.

Enquanto o governo dos Estados Unidos revela a sua “surpresa” e “perplexidade” diante do poderio econômico e militar do EI um grupo de antigos combatentes feridos no Iraque após um ataque terrorista resolve processar os bancos Credit Suisse AG, HSBC, Standard Chatered, Royal Bank of Scotaland e Barclays PLC.

Estes veteranos de guerra e familiares dos militares mortos exigem, desde novembro de 2014, uma indenização de 150 milhões de dólares dos bancos, que segundo eles, possibilitaram a movimentação dos recursos financeiros do grupo terrorista responsável pelo atentado.

Observe: Uma associação de ex-combatentes conseguiu rastrear o movimento financeiro de um grupo terrorista envolvendo, pelo menos, cinco bancos internacionais. Enquanto isso o governo do país que controla um gigantesco sistema de espionagem afirma não possuir uma “bala de prata” para colocar fim no poder econômico do IE.

Talvez a arma secreta sonhada pelo antigo subsecretário David S. Cohen não seja tão secreta assim.

O The Financial Action Task Force (FATF), entidade intergovernamental responsável pelo combate a lavagem internacional de capitais financeiros, apresentou em seu relatório de fevereiro de 2015 um roteiro básico da movimentação financeira do EI.

Apesar de resaltar que “uma parcela significativa dos dados relacionados a este assunto é de natureza sensível tornando-se por isso restritos ao conhecimento público” o relatório da FATF confirma o petróleo como principal fonte de recursos do IE e revela a existência de um sistema bancário próprio deste grupo associado aos órgãos financeiros internacionais e foram detectados depósitos em numerário excessivos em contas nos Estados Unidos transferidos em seguida para áreas próximas daquelas controladas pelo EI.

Como forma de facilitar esta integração financeira somente no território iraquiano controlado pelo EI, principalmente em Mosul, existem 90 sucursais de bancos internacionais que continuam operando inclusive com serviço de caixas eletrônicos cuja estrutura parece imune aos bombardeios.

O EI quando o assunto é respeito a propriedade privada dos bancos atua de forma curiosa segundo o relatório do FAFT “o dinheiro existente em bancos estatais passa a ser propriedade do Estado Islâmico” enquanto aqueles encontrados nos bancos privados são religiosamente respeitados aplicando-se ao correntista “uma tributação no momento do saque”.

Com relação ao banco estatal do Iraque, continua o relatório do FAFT: “Estima-se que o Estado Islâmico passou a controlar meio bilhão de dólares de bancos estatais no Iraque”. O documento não apresenta com clareza como este recurso seria utilizado em transações internacionais considerando a necessidade de sua conversão em moeda estadunidense cuja abundancia na região do Golfo Pérsico é bastante conhecida. A resposta para a forma de conversão dos dinares em dólares talvez encontremos a partir da liberação da “parte sensível” do relatório.

O escritório de advocacia Duhaime especializado em análise para grandes empresas, governos e corporações a respeito de atividades financeiras dos grupos terroristas é responsável pela elaboração de um documento muito acessado por interessados em compreender a movimentação dos recursos financeiros do EI.

Neste documento intitulado White Paper on Islamic State, lançado em maio de 2015, estranha-se que “Até a data do lançamento deste documento os setores públicos ou privados pouco realizaram para detectar ou prevenir o financiamento do Estado Islâmico” e completa com relação a movimentação dos recursos decorrentes da principal fonte de renda do EI: “Não é possível um comércio de petróleo sem o envolvimento e apoio de instituições financeiras de forma voluntária ou não”.

Vejam que a autora é delicada e oferece o beneficio da dúvida ao sistema financeiro internacional que é conhecido e reconhecido, desde a renascença, pela inocência e bondade de seus dirigentes.

Continuando: O documento ora em análise informa que o Banco Mosul continua operando, com gestores do EI, realizando normalmente suas operações de pagamento e transferências e portanto, ligado ao sistema financeiro mundial.

O mesmo, o funcionamento dos bancos, ocorre na região da Síria controlada pelo Estado Islâmico observando-se, reafirma-se, a manutenção dos caixas eletrônicos.

Turquia a sede econômica do Estado Islâmico?

Neste ponto resgatamos o Sr. David S. Cohen, ex subsecretário para o terrorismo e inteligência financeira dos Estados Unidos que revela em documento citado anteriormente neste texto: “Quem em última análise está comprando esse petróleo [comercializado pelo Estado Islâmico]? De acordo com nossas informações, desde o mês passado [setembro de 2014] o Estado Islâmico vende a baixo preço a uma variedade de intermediários incluindo alguns da Turquia (…) parece também que parte do petróleo foi vendido a curdos no Iraque e depois revendidos a Turquia.”.

As informações até aqui apresentadas em sua maioria originadas de instituições oficiais dos Estados Unidos revelam que a Turquia – um importante aliado dos Estados Unidos – apresenta um papel fundamental na comercialização da principal fonte financeira do Estado Islâmico.
Neste ponto o anteriormente citado White Paper on Islamic State aprofunda a questão revelando que: “Segundo informações da imprensa turca o Estado Islâmico possui um consulado em Ancara – de forma ostensiva – que emite vistos oficiais e administra grandes residências e automóveis blindados para seus líderes.”

Prossegue o documento afirmando que o uso do sistema bancário, neste caso, é facilitado através da criação de empresas na Turquia e utilização do sistema bancário internacional a partir deste país.

E oferecendo o beneficio da dúvida completa: “Empresas de serviços financeiros dos Estados Unidos também fornecem serviços aos membros do Estado Islâmico no Iraque, na Síria e também na Turquia e no Líbano sem dúvida de forma inconsciente”.

No território de um outro aliado dos Estados Unidos o beneficio da dúvida perde força e informa a autora em análise: “No Katar os terroristas do Estado Islâmico tornam-se clientes preferenciais ou VIPs e através dos bancos locais aplicam em qualquer parte do mundo incluindo em fundos internacionais”

O sistema financeiro internacional condena a humanidade às trevas.

A associação do poder econômico gerado a partir da exploração petrolífera aos totalmente desregulamentados bancos internacionais revela a crueldade de um sistema cujo único objetivo encontra-se no lucro.

Esta tenebrosa associação não ocorre apenas entre o EI e bancos revela-se de forma cristalina inclusive entre os detentores do oligopólio do petróleo cujo papel no modelo de sustentação econômica do EI necessita de uma análise cuidadosa.

Afinal quem garante o fornecimento de equipamentos de exploração, treinamento de mão de obra para o funcionamento dos campos petrolíferos controlados pelo EI?

Devemos ainda considerar que a queda na produção de petróleo no Iraque e a venda, através da Turquia, de petróleo contrabandeado a preços inferiores aos praticados no mercado, contribuem efetivamente para a manutenção da política deliberada que prejudica as economias de países como Venezuela, Rússia e Irã.

Esta prática também favorece a reserva de grandes quantidades de petróleo em áreas de fácil exploração enquanto os Estados Unidos utilizam-se do petróleo derivado do xisto reservando para o futuro o petróleo fruto destas regiões em conflito.

O capital mata para garantir a sua reprodução enquanto isso os detentores do monopólio da informação enganam os trabalhadores apresentando a farsa do noticiário no qual homens bons combatem homens maus. Na realidade associam-se de forma subterrânea aos assassinos.
Autor: Wladmir Coelho
Fonte: Pravda.ru

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