Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
26/7/2016, Pepe Escobar, SputnikNews (traduzido no Blog do Alok)
27/7/2016, Pepe Escobar, RT (traduzido no Blog do Alok)
Há um buraco azul no Mar do Sul da China. Longdong ("Buraco do Dragão") tem espantosos 300,89 metros de profundidade, em águas azuis profundas perto de Yongle, um grande recife de corais nas ilhas Paracel (ou Xisha, na denominação chinesa).
Os mais cínicos podem argumentar que, depois da recente sentença da Corte Arbitral de Haia, em larga medida contrária à "linha dos nove traços" da China, todo o Mar do Sul da China seria, mais, um buraco negro – não azul – geopolítico, onde as mais sérias turbulências são praticamente inevitáveis.
Já examinei noutro artigo como a história do Mar do Sul da China está hoje colidindo com imperativos derivados do sistema de Westphalia, e como o "pivô para a Ásia" do EUA está acelerando o conflito. Também examinei como a obsessão da Marinha dos EUA com "acesso" na verdade está tumultuando as relações entre nações soberanas, na questão de qual delas tem direito de extrair lucros das águas em torno de um punhado de ilhas ou "rochedos".
Além disso tudo, há também aquela lógica inescapável que envolve todas as guerras de energia: "É o petróleo, estúpido".
No azul profundo
A atual disputa territorial centralizada entre China e as Filipinas – muito mais que entre China e ASEAN – e que gira em torno do que prescreve a Convenção da ONU para a Lei do Mar [ing. UN Convention on the Law of the Sea (UNCLOS)], terá de ser resolvida, mesmo, por uma decisão direta. Manila terá de decidir entre seguir ao pé da letra a sentença da Corte Arbitral de Haia; ou desistir de facto da soberania, em benefício de auferir ganhos, quanto antes, melhor, no campo da segurança energética – e em parceria com os chineses. O presidente filipino Duterte já emitiu sinais de que optará pelo pragmatismo.
A China National Offshore Oil Corporation, CNOOC, e outras gigantes chinesas do petróleo não se deterão ante nenhum obstáculo para explorar petróleo e gás no Mar do Sul da China. Mas há um importante porém. A maioria absoluta dos geocientistas – por exemplo, os membros da Southeast Asia Petroleum Exploration Society (SEAPEX), que tem sede em Cingapura – concordam que a maior parte dos recursos de energia estão, na verdade, fora da "linha de nove traços" da China, quer dizer, estão longe dos tais rochedos, recifes e "afloramentos de maré baixa".
Só alguns poucos pontos nas ilhas Spratly podem ser descritos como bom negócio. Essencialmente, em águas muito, muito profundas – muito mais profundas, a 6 mil metros de profundidade, que o "Buraco do Dragão" – a única coisa que existe é a crosta oceânica; nenhuma rocha onde possa haver petróleo e gás; e, ainda pior, sem qualquer reservatório onde petróleo e gás pudessem ficar acumulados.
A Administração de Informação de Energia dos EUA estimou há três anos, que o Mar do Sul da China contém apenas 11 bilhões de petróleo e 190 trilhões de pés cúbicos de gás, de reservas "comercialmente viáveis".
Para que se possa comparar, seria semelhante a todo o petróleo que existe no México. Ou na Europa Ocidental (sem contar a Rússia, é claro). E isso se aplica a todo o Mar do Sul da China – inclusive a áreas que pertencem, sem discussão, a várias das Zonas Econômicas Exclusivas ZEEs de nações litorâneas.
Para as Filipinas – e, mesmo, o Vietnã – faria completa diferença e mudaria o jogo. Mas não para a China. Ainda que toda essa energia pudesse ser embarcada toda para a China em futuro próximo, seria suficiente só para uns poucos anos de consumo.
O Mar do Sul da China é realmente mais crucialmente importante como rota de trânsito marítimo para mais de 1/3 do petróleo global e metade do gás natural liquefeito (ing. LNG) global. Pelo menos 10% – e aumentando – de toda a energia que a China consome viaja pelo Mar do Sul da China.
Mas por que, então, persiste a obsessão com explorar a energia submarina?
Pego minha HYSY 981 e vou viajar
Mais uma vez é preciso retornar ao conceito chinês de "soberania móvel". E entra em cena a plataforma de perfuração para extração de petróleo em águas profundas, a Haiyang Shiyou 981 (HYSY 981). A plataforma HYSY 981 já foi descrita, em frase que ganhou fama, por ninguém menos que o presidente da CNOOC, Wang Yilin, como uma "arma estratégica" que faz parte da "soberania nacional móvel" da China. Pode-se supor que até os mais insensíveis analistas do Pentágono apreciariam a ideia.
Então, quando a CNOOC usa a HYSY 981, não é preciso "ocupar" qualquer ilha, rochedo, recife, águas circundantes, seja lá como a UNCLOS venha a preferir descrever o cenário. Você move sua "arma estratégica" para um ponto disputado do mar; faz lá sua pesquisa exploratória de profundidade; extrai o que puder; e volta com a plataforma para águas internacionais. A única coisa necessária é uma mãozinha da Marinha Chinesa para proteger você por um curto período de tempo – por exemplo, contra ataques da Marinha do Vietnã. E se a coisa começar a ficar feia, você sempre pode pegar sua plataforma e retirar-se, como gesto de boa vontade.
Poucos talvez saibam no ocidente, mas a China está construindo e pondo em instalando muito mais HYSY 981s que equipamento militar. Bem-vindos todos à versão subaquática asiática do "Perfure, baby, perfure".
No que tenha a ver com a equação da energia, a construção incansável, pela China, de ilhas, no que a Convenção UNCLOS definiu como "rochedos" e a ofensiva "Perfure, baby, perfure" aponta o Santo Graal da segurança energética da China: escapar de Malacca, o imperativo de conseguir dispensar progressivamente o ponto de gargalo controlado pela Marinha dos EUA.
Não importa que não haja muito petróleo e gás a ser extraído do Mar do Sul da China. O que importa é que é parte de uma estratégia em rede de longo prazo – mediante a qual Pequim investe em implantar elos/infraestrutura em toda a trilha, do Oceano Índico ao Pacífico Ocidental, para garantir/proteger o próprio suprimento de comércio/energia.
Disso, precisamente, trata o conceito, em estilo Sun-Tzu, de "soberania móvel".*****
* "Drill, baby, drill!" [lit. "Perfure, baby, perfure!"] é expressão usada na campanha Republicana nas eleições norte-americanas de 2008. Depois foi usada também pela candidata Republicana a vice-presidenta, Sarah Palin, em debate pela TV (NTs, com informações de Wikipedia).
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