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quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Relações EUA-Rússia degringolam, por MK Bhadrakumar

MK Bhadrakumar, Indian Punchline

Traduzido pelo coletivo da vila vudu

Rússia e EUA podem estar caminhando para um confronto, depois da decisão de Moscou, na 6ª-feira, de retaliar finalmente contra a expulsão dos EUA, por ato do presidente Obama, de 35 diplomatas russos, e pelo confisco de dois prédios pertencentes aos russos, dia 30 de dezembro, ano passado.
Questões consulares em geral são sinal do estado real do jogo nas relações entre estados – e frequentemente são um teste limite. Sem dúvida, a intenção de Obama foi complicar o relacionamento russo-americano, a ponto de já não haver remédio quando Donald Trump assumisse a Casa Branca. Obama contava com alguma reação forte de Vladimir Putin, a qual por sua vez dispararia crise gravíssima nas relações. Mas Putin logo percebeu a 'jogadinha' de Obama.
Optou por cutucar o presidente Donald Trump em tom nada belicoso. Mas quase imediatamente a Rússia foi convertida em tema tão tóxico no circuito em Washington, que Trump foi empurrado para a defensiva quando se tratou de devolver os imóveis confiscados ou de conceder visto de entrada aos novos diplomatas russos nomeados para os EUA.

Ainda assim Moscou esperou pacientemente durante seis meses, antes de decidir que basta. E acaba de atacar muito duramente Washington, como sugerem as declarações do Ministério de Relações Exteriores na 6ª-feira. Moscou poderia expulsar 35 diplomatas norte-americanos, mas optou por aplicar o princípio de paridade: impôs uma regra diferente, pela qual o número de funcionários designados para a Embaixada em Moscou e para os três consulados dos EUA (São Petersburgo, Yekaterinburgo e Vladivostok) não ultrapassará 455 – exatamente o mesmo número que os EUA fixaram para o pessoal russo nos EUA.

Os americanos estão em estado de choque porque a verdade é que centenas de funcionários e agentes terão de ser devolvidos a Washington. Claro que Moscou, gentilmente, deixou que os EUA selecionem o pessoal, mas de modo algum o número poderá exceder 455, exatamente o mesmo número que Obama determinou para os russos. Diferente também de Obama, que determinou que os diplomatas russos deixassem o país em 72 horas, Moscou deu prazo de um mês para que o pessoal excedente deixe a Rússia.

Simultaneamente, os russos também retomaram dois prédios usados pelos norte-americanos – uma dacha num subúrbio bucólico de Moscou, que diplomatas norte-americanos e familiares usam para, como dizem os militares "repouso e recuperação" (R&R), e um armazém no qual guardam os itens de suprimentos importados dos EUA duty-free.

O truque está em que os EUA absolutamente não têm do que reclamar, porque paridade e reciprocidade são princípios universalmente aceitos nas relações entre estados, e Moscou nada exige além do que tem pleno direito de exigir – relações de igualdade baseadas na reciprocidade. Na realidade, Putin está desmantelando e paralisando todas as 'operações' da embaixada dos EUA em Moscou.

A situação não poderia ser mais feia para Washington, mas os norte-americanos estão recebendo o castigo que merecem, efeito da petulância de Obama e da absoluta ignorância de que os russos jamais deixariam sem resposta fortíssima aquele ato tresloucado dos EUA. O 'estado profundo' nos EUA exigirá sangue russo para 'reparar' o desaforo, porque não há dúvida de que a ampla maioria do pessoal que será repatriado são espiões e 'agentes agitadores'. O escritório da CIA na Rússia dirige e coreografa um grande show. Agora, todas as operações clandestinas serão gravemente afetadas.

E Moscou também deixa avisado que haverá resposta de toma-lá/dá cá para qualquer tipo de ação contra diplomatas russos nos EUA. Há alta possibilidade de que outra rodada de expulsões de diplomatas esteja em preparação e seja ser anunciada a qualquer momento. Claro que permanece a opção, para Washington, de discutir e chegar a melhor solução para os dois lados, mas o clima político em Washington não parece ser propício a isso.

Interessante também: Moscou cuidou de deixar claro que o anúncio da 6ª-feira é resposta-retaliação exclusivamente ao movimento temerário irresponsável de Obama de dezembro passado; e que Moscou reserva-se o direito de reagir separadamente às mais recentes sanções impostas pelos EUA.


Os russos adotaram linha duríssima, porque já não têm esperança realista de que alguma melhora significativa nas relações seja ainda esperável, pelo menos no futuro imediato. É o que também se depreende de uma entrevista que deu ao programa ABC News o vice-ministro de Relações Exteriores Sergey Ryabkov, no domingo.

blogdoalok

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