“Pode-se dizer que a pequena República Srpska, mudou-se repentinamente
para o Lago Paranoá, em Brasília, DF...” [pano rápido]
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Traduzido pelo Coletivo Vila Mandinga
A República Sérvia (também conhecida como República Srpska, que não deve ser confundida com a Sérvia propriamente dita), uma das duas regiões de estados disfuncionais e governos autônomos (a outra é a Federação da Bósnia e Herzegovina, federação croato-bósnia), realizará eleições dia 7 de outubro.
O processo eleitoral acontecerá sob a sombra alongada da manipulação política ocidental, empenhada em influenciar no resultado.
De um lado, há o assassinato ainda não solucionado, de março de 2018, de um jovem politicamente insignificante, que causou vastíssima agitação a partir de acusações vaguíssimas e até hoje absolutamente sem qualquer prova, de que o governo eleito teria participado do crime.
Do outro lado, acusações altamente verossímeis, de que a principal aliança da oposição na República Sérvia é mantida com dinheiro de EUA e Grã-Bretanha. Os dois desenvolvimentos, claro, saíram diretamente das páginas do manual de Gene Sharp de guerra política por outros meios, também chamada “revolução laranja” no específico, e “revolução colorida” no genérico.
O assassinato misterioso de David Dragičević, estudante de 21 anos, sem vínculos políticos conhecidos, extraordinariamente mal investigado pelas autoridades policiais, foi usado durante meses, como conveniente grito para arrastar às ruas multidões de ativistas contrários ao governo. Quanto ao apoio financeiro e logístico passado por baixo da mesa a opositores do presidente – e amigo da Rússia –Milorad Dodik, já se sabe que não são meros slogans políticos distribuídos em tempos de campanhas eleitorais.
USAID e outros ‘veículos’ instituídos e postos a funcionar por lá pelos governos de EUA e Grã-Bretanha não fazem segredo de que, sim, estão injetando dinheiro na República da Sérvia, especialmente em grupos políticos e ‘jornalísticos’ simpáticos à agenda do ‘ocidente’ – que visa exclusivamente a fazer pender a balança a favor de EUA e Grã-Bretanha, para afinal salvarem a República da Sérvia, da “maléfica influência dos russos”.
Todas as regras que impedem qualquer interferência nas eleições, aprovadas em benefício dos países hegemônicos, pelo que se vê, não se aplicam ao que façam e desfaçam os próprios hegemons. Resultado disso, a República da Sérvia enfrenta hoje a agonia de um segundo roundda ‘revolução colorida’ que foi originalmente tentada, mas fracassou, há quatro anos, quando das eleições gerais anteriores, em 2014.
A ameaça é aguda, não só contra o governo e a liderança de Dodik, mas, mais importante, contra a própria existência da República da Sérvia. Agentes ocidentais e traidores de vários matizes são pagos e clandestinamente apoiados, porque aceitaram revisar o acordo de Dayton, de 1995, e promover o conceito de um estado bósnio unitário, que eliminaria, ou extrairia as vísceras, da República da Sérvia. Também aceitaram derrubar o veto da Sérvia, contra a admissão da Bósnia como membro da OTAN.
Mas se a posição de Dodik nessas questões chaves é firme, sua autoridade foi significativamente comprometida pela corrupção e incompetência de membros de seu governo. Esses eventos serviram para que a oposição pró-OTAN e anti-Rússia conseguisse legitimar algumas questões e conseguir votos que não conseguiria em tempos normais, se dependesse só das políticas que foram alugadas para implantar. Infelizmente, tudo isso já aconteceu tantas vezes no passado, que a população sérvia praticamente já não tem escolhas reais entre posições boas e más, mas, exclusivamente, entre diferentes tonalidades de ruim.
Novas forças políticas dinâmicas, como, por exemplo o movimento “Sérvia Bem-sucedida” [ing. “Successful Srpska”], de profissionais jovens e patriotas, distantes dos escândalos e da corrupção, não têm recursos, nem contam com qualquer apoio das mídia-empresas. O campo de jogo não é nivelado igualmente para todos. Caras jovens e honestas perdem votos, enquanto os dinossauros políticos do passado continuam em cena, sem nada a oferecer além de retórica oca, e, em alguns casos, também políticas gravemente péssimas.
A Bósnia é estado falhado. Foi criado como protetorado internacional mantido sob respiração artificial, e que continua a ser o que sempre foi desde a assinatura do Acordo de Dayton Peace em 1995, que pôs fim à guerra civil. O presidente Dodik deu sinais de que organizaria um referendo para decidir entre a independência ou a união com a Sérvia, se a secessão ilegal do Kosovo, separado da Sérvia, receber reconhecimento internacional.
Mas a questão real é o que as três comunidades que há na Bósnia, não só os sérvios, farão, depois do inevitável fim da Bósnia.
Não há praticamente qualquer evidência de que Dodik algum dia considerou seriamente a possibilidade da secessão. Parece que ele está usando essa carta para se alavancar no plano político eleitoral, e com efeito considerável no nível doméstico.
Quanto a maior autonomia para a República da Sérvia, para sermos precisos, o que Dodik sempre quis foi voltar ao arranjo confederativo estabelecido em Dayton, que cria governo central extremamente limitado e autogoverno virtualmente sem entraves para a República da Sérvia, e para a outra entidade. Não se trata de querer de devolver a situação aos poderes de antes, mas, para começar, de reinstituir o sistema original pelo qual quase todo o poder concentrava-se nas unidades constituintes, ou “entidades” como são chamadas. É situação que copiava ostatus dos estados em relação ao Governo Federal na Constituição original dos EUA. Mas esse sistema foi continuadamente diluído, ao longo dos anos, por decisões imperiais, de legalidade muito duvidosa, tomadas pelo vice-rei da União Europeia na Bósnia, conhecido como “Alto Representante da UE”.
O único objetivo dessas decisões impostas sempre foi reduzir os poderes de autogoverno da República da Sérvia e centralizar a tomada de decisões na capital, Sarajevo.
Não há qualquer entusiasmo, entre os sérvios, por permanecerem, não importa sob que termos, como parte do estado bósnio, porque por enquanto considerariam satisfatória a restauração do arranjo confederal pouco rígido ao qual visava originalmente o acordo de Dayton. Esse sistema os deixaria com alto grau de autogoverno em seu próprio estado virtualmente independente. Poderiam ignorar, em grande medida o governo indigesto em Sarajevo, ao mesmo tempo em que Sarajevo teria fraco controle efetivo sobre eles. Até que o equilíbrio geopolítico de forças no mundo mude suficientemente para permitir restruturação mais fundamental, esse sistema satisfaria plenamente os sérvios.
Mas, claro, esse conceito conflita diretamente com os planos da OTAN e dos principais players na aliança ocidental. Por isso nada darão aos sérvios e estão hoje encenando mais uma “revolução colorida” para pôr no governo da República da Sérvia alguém comprado e pago para operar como colaborador da OTAN, comprometido com alcançar não algum valor nacional ou local, mas com alcançar os objetivos dos EUA na aliança do Atlântico Norte. Tudo isso, sob aparência de eleições legais e legítimas, dia 7 de outubro – o que aquelas eleições não são.
blogdoalok
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