Os países da União Europeia prometeram analisar a 30 de setembro o relatório do Serviço Europeu para a Ação Externa, com base no qual poderá ser tomada a decisão sobre o levantamento ou o alívio das sanções contra a Rússia. Tudo indica, porém, que a União Europeia poderá mais uma vez ficar refém de seus procedimentos burocráticos.
O famigerado princípio do consenso para tomada de decisões na União Europeia já complicou por diversas vezes as relações entre Bruxelas e Moscou, pelo que ele já foi criticado por diversas vezes, e com fundamentos, pelo lado russo. Parece que isso deverá ocorrer também desta vez.
O cenário pessimista para a evolução dos acontecimentos se baseia no fato de no seio da União Europeia existir um determinado grupo de países conhecido pela sua linha dura relativamente à Rússia em geral e aos acontecimentos da Ucrânia em particular. A Letônia, a Lituânia, a Estônia, a Suécia e a Polônia defendem a continuação das sanções como forma de pressão. Nessas condições é extremamente complicado obter um cancelamento de uma decisão, mesmo que ela tenha sido claramente errada.
Os peritos supõem que por enquanto os líderes europeus mantêm bastantes divergências quanto à interpretação dos últimos acontecimentos na Ucrânia, e que Bruxelas irá provavelmente preferir fazer apenas promessas em vez de tomar decisões concretas.
Por outro lado, ao especular à volta do tema da abolição das sanções, a Europa está sugerindo que irá tentar aproveitar qualquer oportunidade favorável para se livrar desse peso. Se bem que Bruxelas não irá desistir com facilidade dessa sua ferramenta de política externa, considera o candidato a doutor em ciências históricas Konstantin Voronov:
“Para uma União Europeia que não possui forças armadas próprias e outros atributos para um exercício duro do poder, as sanções se tornaram ultimamente numa espécie de instrumento de política externa. Basta recordarmos que, desde 2003, eles já introduziram sanções contra Myanmar, contra a Bielorrússia, contra a Líbia, duas vezes contra o Irã e contra a Síria. Ou seja, as sanções são um instrumento de política externa da União Europeia, assim como um indicador da sua força normativa.
“É evidente que a União Europeia não irá simplesmente levantar as sanções. Ela quererá, tal como qualquer outra potência normal usando o conceito de realismo político, trocar isso por alguma coisa. Obter em troca cedências, vantagens ou garantias, ou umas promessas, no pior dos casos.”
As confusões e hesitações do establishment político europeu preocupam o mundo empresarial do continente, e este já deu a entender por diversas vezes que está sofrendo perdas consideráveis devido a essa política de sanções contra a Rússia e que em perspectiva elas podem ser muito maiores. Na opinião do diretor do Centro Europeu de Análise Geopolítica, Mateusz Piskorski, neste momento estão reunidas todas as condições para se dar o primeiro passo na direção do alívio das pressões:
“Determinados países da União Europeia reconheceram a falta de perspectivas da política de sanções em relação à Rússia. Já foram feitos os primeiros cálculos e reunidas provas sobre os prejuízos causados pela guerra econômica, declarada à Rússia pela União Europeia, a determinados países da União Europeia e às suas economias. Eu desejo sublinhar que isso não se refere, em primeiro lugar, aos resultados das sanções de resposta introduzidas pela Federação Russa, mas sobretudo às empresas europeias que trabalhavam com parceiros russos que atualmente estão na lista negra da União Europeia”.
Aqui ainda temos de ter em consideração a posição da Rússia, a qual respondeu às várias vagas de sanções ocidentais com apenas uma, e mesmo essa bastante limitada, ponderada e cautelosa.
Moscou, por exemplo, não optou por proibir os voos das transportadoras aéreas europeias sobre a Sibéria ou por limitar a importação de automóveis, apesar de essas propostas terem sido ativamente discutidas. Como afirmou o diretor do Centro de Estudos Germânicos do Instituo da Europa da Academia de Ciências russa, Vladislav Belov, prevaleceu a sabedoria política. Na opinião do perito, a Rússia surpreendeu dessa forma os líderes ocidentais e aborreceu o “partido da guerra” europeu, o qual contava com mais uma espiral no aumento de tensão.
Na prática, a Rússia chamou a atenção do Ocidente para o seu comportamento incorreto em contexto de aproximação de posições e de restabelecimento gradual da confiança. Há esperanças que o Ocidente se controle e responda à Rússia de uma forma construtiva.
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